segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Casas e praças antigas, de maragatos e chimangos




Aqui em Santana de Livramento, depois de quase um ano procurando, finalmente conseguimos achar uma casa antiga, no centro, para reformar, mantendo seu estilo original.

Sinto pena de casas, praças e ruas abandonadas.
Casas e praças antigas fazem parte do coração das cidades.
Preservá-las é uma questão de cardiologia urbana.
Não são apenas de tijolos, cimento.
Elas têm uma alma, memória viva das cidades.

Contamos com a ajuda de São Pedro, a quem recorremos em oração, pedindo que nos ajudasse a achar uma casa antiga possível ao nosso orçamento.
Na Igreja Matriz de Livramento, no lado esquerdo, lá estava São Pedro, com duas chaves na mão, uma de ouro e outra de prata.
 “A chave que conta mais é a de ouro, do céu, mas a de prata, casa na terra, também conta”, explicou-nos Pedro, mostrando suas chaves.

A casa antiga que compramos era de descendentes da família de João Francisco de Assis Brasil.
“Que bom”, pensei, “vamos morar numa casa de maragato”.
Em Livramento, residimos na Rua Silveira Martins, outro maragato.
Havia bons maragatos e bons chimangos.
Como não gostar de Flores da Cunha, chimango, após a leitura do livro “Flores da Cunha de corpo inteiro”, de Lauro Schirmer?

Em Santana do Livramento, uma praça que leva seu nome foi invadida pela omissão do poder público e dos cidadãos santanenses que trocaram o amor pela cidade pela área de conforto do sofá da sala da televisão.
Agora, um movimento contrário finalmente tenta recuperá-la.
Tomara que consiga!

A memória da cidade é de todos. Pobres e ricos amam a beleza da memória viva. Ficarão agradecidos. Afirma que preservar a memória é coisa de rico quem casou com a omissão, ou com a corrupção, entupindo o coração da cidade com o colesterol insano da demagogia.
Na cidade de Pelotas, a Praça Cel. Pedro Osório foi revitalizada. Estão de parabéns povo e governo municipal! Pobres e ricos amam as praças, em Pelotas ou em Livramento.

Outro chimango bem relevante foi Júlio de Castilhos. Conheço as críticas a ele feitas, os crimes a ele atribuídos, e talvez isso tudo seja verdadeiro.
Porém, em cada ser humano há a balança dos créditos e das dívidas.

E o Julinho positivista tem, também, seus créditos. Um deles? Organizar o poder a partir de uma referência intelectual forte. Outro? Gostar da ciência, e promovê-la, coisa que os caudilhos não faziam. Para Castilhos, o positivismo foi uma paixão avassaladora. Respeito os fundadores políticos da República aqui no sul: Júlio de Castilhos, Flores da Cunha, Osvaldo Aranha, Assis Brasil. O guerrilheiro Honório Lemes, maragato, também foi homem de valor, segundo a palavra do chimango Flores da Cunha, que sabia francês. Há valores e defeitos graves na vida de maragatos e chimangos, como a degola.

No Brasil, em geral, são mais conhecidos o transformista Getúlio Vargas (com sua impressionante capacidade de mudar de posição, camaleão político), Jango, Brizola.
Também eles têm seus defeitos e qualidades na balança moral da vida.
Estou gostando muito de ler sobre a vida de Flores da Cunha, Honório Lemes, Assis Brasil, Osvaldo Aranha, Silveira Martins, Pedro Osório, Pinheiro Machado e o tão criticado Julinho positivista. Castilhos perseguiu a oposição? “Atire a primeira pedra...”.

Os políticos de hoje em geral são meio exangues.
Prefiro ler sobre a vida dos velhos maragatos e chimangos.
Apesar dos erros, não havia neles a monotonia previsível da omissão culposa (ou dolosa) das hodiernas “esquerda” e “direita”.

Texto de Fábio Régio Bento, cidadão santanense por adoção

Foto: Calle Sarandi, em Rivera (Uruguai), com vista para a Praça dos Cachorros. 

2 comentários:

Gabii Braz disse...

Olá, sou Gabriela e estudo no 2º ano da escola Estadual.Estamos fazendo um trabalho sobre a história de Livramento,como era e como está,o desenvolvimento.Lí este texto e achei muito interessante.Nos trará ideias para nosso trabalho.Gostaria que postassem mais coisas sobre essa parte.Obrigada

ibura Mathias disse...

Amigos

O descaso não é somente com Livramento. Vejam as demais cidades da Fronteira Oeste. Mas, aqui, me solidarizo com o Povo de Livramento pela perda do espaço público esperando por uma virada de postura, onde todos teem de contribuir. Sou da região e conheço a cidade. Pena.Iburã - Rio de Janeiro