quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A origem do fenômeno social dos camelôs


Sempre que se fala em camelôs ocupando espaços públicos para venderem seus produtos manufaturados, se comenta sobre o problema social que está oculto atrás deste fenômeno urbano. Sabe-se, igualmente, que o vendedor de rua em sua maioria resulta do desemprego estrutural. Nas últimas três décadas o Brasil viveu um longo período de estagnação econômica. Ou seja, as taxas anuais de crescimento não eram suficientes para absorver a mão-de-obra que aportava ao mercado de trabalho a cada ano. Para agravar, o avanço da técnica, da mecanização industrial, comercial e rural eram também fatores que impediam o pleno emprego, especialmente de jovens inexperientes ou de pessoas com mais de 45 anos, sem muita qualificação profissional. Como as pessoas precisam sobreviver, a atividade de vendedor ambulante acabou sendo a saída digna para muita gente sem ocupação e com necessidade de um ganho para sustentar a sua família. Essa situação dramática forçada pela crise econômica de dezenas de anos, as novas tecnologias que desempregam, a exigência de qualificação da mão-de-obra formaram o caldo de cultura para a proliferação de camelódromos informais nas grandes e médias cidades brasileiras.

Em Livramento a coisa não foi diferente. A partir da década de 80, a Praça dos Cachorros e o Parque Internacional foram o espaço privilegiado para o desempregado urbano apostar numa nova vida de comerciante informal. Houve uma certa tolerância dos poderes públicos face ao reconhecimento do problema social e a absoluta incapacidade de fazer frente àquele desafio estrutural, já que era a própria economia brasileira que estava estagnada e não podia absorver a mão-de-obra excedente.

Mas essa realidade econômica de estagnação, inflação e desemprego estrutural é um fenômeno que o Brasil já superou quase por completo. Nos últimos sete anos foram criados cerca de 15 milhões de empregos com carteira assinada no País, conforme dados do Ministério do Trabalho. Portanto, foram empregos formais, com pleno reconhecimento de direitos trabalhistas e previdenciários. O Brasil retomou a sua marcha de desenvolvimento, passou a produzir mais na indústria, mais na agropecuária e o comércio também aumentou os seus volumes negociais, tanto no mercado interno, quanto no mercado internacional. Cerca de 53 milhões de brasileiros viram aumentar a sua renda e ascenderam à condição de consumidores de mais e melhores alimentos e de bens duráveis e supérfluos.

O progresso social e econômico do Brasil é inegável, e dele se beneficiaram quase todos os brasileiros e brasileiras. Agora, quando se fala em camelôs já não se pode pensar mais como um problema social. Os motivos dramáticos que foram a razão de ser do vendedor ambulante informal praticamente já deixaram de existir. O crescimento do País, as oportunidades de estudo e qualificação da mão-de-obra, as novas Universidades - inclusive a UniPampa - propiciaram aos mais jovens uma oportunidade imperdível de estudar e se aprimorar para a carreira profissional.

(Amanhã continuamos este pequeno artigo.)

Foto: camelôs na Vila Madalena, São Paulo. Neste local, eles só podem comercializar aos sábados, nos demais dias está proibido o comércio de rua na área pública. É uma solução intermediária, que satisfez o poder público e o comércio ambulante. Em muitas cidades brasileiras, os camelôs são itinerantes, ficam cada dia da semana em locais diferentes, não impactando o espaço público de forma permanente num só local.  

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